Desde o anúncio de que Catia Fonseca deixaria a Band, na última quarta-feira, dia 11, uma chuva de mensagens começou a chegar no meu celular. “Vai falar sobre isso, Matheus?”, “Vai sair nota?”, “Grava vídeo falando o que você acha” … E, fazia muito tempo que não sentia algo assim. Um silêncio.
Foi uma reação estranha. Um espaço esquisito dentro de mim que ainda não consigo nomear. Li muitas coisas nas redes, assisti a vídeos, vi matérias pipocando por todos os lados. Algumas análises faziam sentido. Outras, não tinham sentido algum. Mas o fato é que só agora eu consegui escrever algo.
Talvez porque eu conheça um pouco mais da história da Catia com a Band. Trabalhamos juntos por dois anos no Melhor da Tarde. O que veio foi um mix de lembranças, reflexões e carinho.
Catia tem uma personalidade forte. Tem opiniões claras, posicionamentos bem-marcados e leva muito a sério o que faz. Talvez por isso, às vezes, soe um pouco mais firme. Entendo quem espera mais doçura, mas os bastidores da televisão nem sempre permitem. Em determinadas situações, a pressão, o estresse e as expectativas pesam. Na minha leitura, é mais defesa, autoproteção. Mas uma coisa eu posso garantir: Catia é do bem. No meio de tanta gente que joga sujo, Catia é da turma do jogo limpo. Acerta muito mais do que erra. É humana e, como todos nós, tem suas falhas. Mas seu coração é gigante.
Nossa conexão foi instantânea. Na minha primeira ida ao programa, ela já me convidou para um eio que ela e a equipe fariam num fim de semana. Dias depois, veio o convite para integrar o Melhor da Tarde. Só que, naquele momento, eu também havia sido chamado para o Fofocalizando, no SBT. Expliquei tudo para ela e para o Rodrigo Riccó, diretor do programa e casado com a Catia. Agradeci, mas aceitei a outra oportunidade por fazer mais sentido para o que eu precisava naquele momento. Mas foi praticamente um “até breve”. Algo em mim dizia que nosso caminho ainda iria se cruzar. E não é que cruzou?
Num dos momentos mais difíceis da minha trajetória profissional (e pessoal), um convite para tomar café reacendeu parte da minha vontade de voltar a trabalhar na TV. O papo com o Riccó e com o Neri, assistente de direção, foi animador.
Um mês depois, voltei ao programa como convidado. Fui sendo chamado com mais frequência. A recepção da Catia, dos colegas (Alex Sampaio, Kaka Meyer, Rafa Pessina), da equipe de produção e, principalmente, do público foi calorosa. Quando veio a proposta de contratação, o meu “sim” veio automático.
E foram tardes incríveis. Muitas risadas, receitas gostosas, momentos marcantes e muitos aprendizados. Depois, já em uma nova fase do programa, viramos um trio bem alinhado: Catia, Alex e eu. Tinha ritmo. Tinha química. E posso dizer com carinho: até os nosso momentos mais bobos antes de entrar no ar ou durante os intervalos têm um espaço especial na minha memória.
Catia é espontânea. Ama brincar no ar, soltar uma piadinha de duplo sentido. É aquela pessoa que te manda receita por mensagem, que indica onde comprar aquilo que você nem sabia onde achar. No meu aniversário, por exemplo, eu queria um bolo diferente. Ela se envolveu, deu dica, ligou, ajudou.
O ponto é que a televisão vive novos tempos. E a Band, como tantas outras emissoras, vem reorganizando suas contas, cortando orçamentos. Catia, aos poucos, foi sentindo esse impacto. Não tem certo ou errado. Cada lado tinha suas razões e necessidades. Começou a ficar difícil falar a mesma língua. Virou um silêncio estranho.
Infelizmente, o brilho foi, aos poucos, perdendo intensidade. E, de fora, eu fui notando pequenos sinais… que estavam mais no campo da intuição. Algo já não vibrava mais como antes. Até que um episódio me serviu de alerta. Percebi que precisava seguir o meu coração e começar a me dedicar a nova fase profissional que eu vinha planejando. Pedi para sair.
Tive a alegria de pouco tempo depois, ser chamado para fazer a cobertura do Band Folia 2025. Foi uma delícia reencontrar tanta gente querida.
No Melhor da Tarde, as movimentações seguiram. Um tempo depois, veio o desligamento do Riccó, e isso mexeu ainda mais com o clima. A esperança de uma reviravolta ainda sustentou, por um tempo, a continuidade da parceria profissional. Mas, ao que parece, recentemente a dor do fim acabou ficando menor do que a dor de continuar esperando por um milagre. Veio a decisão do ponto final.
Catia esperou sua participação no MasterChef ir ao ar para não gerar transtornos à Band e, no dia seguinte, anunciou que estava de saída da emissora. Inclusive, a participação dela no reality culinário foi super elogiada nas redes sociais. Alguns telespectadores pediram para que ela assumisse o comando da atração, que está sem apresentadora desde a saída de Ana Paula Padrão.
Mas aí entra um ponto delicado: por mais afinados que estejam os instrumentos, e por mais belo que seja o repertório… quando o maestro e a orquestra já não estão vibrando na mesma frequência, a música desafina até no silêncio. Desmonta qualquer encanto.
Uma pena.
Mas a vida é cíclica. Chega a hora de respirar, de abrir novas portas, realizar outros sonhos.
É curioso que muita gente, quando me encontra na rua ou em evento, fala que acha que a Catia será a substituta da Ana Maria Braga no Mais Você, da Globo, quando Ana decidir se aposentar. Eu, como fã de Namaria, sempre digo: “Que situação difícil essa, né?! Quero que a Ana trabalhe muito ainda e demore a parar (risos)”. Gosto das duas e acredito que tem espaço para ambas.
Um caso curioso: minha tia-avó, por exemplo, era quase uma devota da Ana na época do Note e Anote, da Record. Quando a Catia substituiu Ana no programa, ela reclamou: “Agora entrou uma moça lá que eu nunca vi”. Foi questão de pouco tempo, virou fã da Catia. Era Catia pra lá, Catia pra cá. A Catia tem esse poder de parecer de casa. Desperta vontade de conversar. Você liga a TV e parece que conhece há tempos.
Não foi à toa que a aceitação do público naquela época foi tão grande e se manteve. Outro ponto que atribuo a essa boa aceitação, e que comprovei de perto, é que Catia sabe respeitar quem veio antes. Nutre um enorme carinho e respeito por Ana Maria. E, mesmo com o público a vendo como uma possível sucessora, ela não força nada. Joga limpo. Catia é fair play, e iro muito isso nela. Nesse meio é coisa raríssima.
Por isso, encerro esse texto com uma certeza: acredito que cada lado, Band e Catia, fez o melhor que pôde, dentro de suas possibilidades e de suas limitações. Às vezes, ciclos precisam mesmo encerrar para outros começarem.
Catia, obrigado pelos ensinamentos, pelo carinho e por me permitir fazer parte da sua história.
Band, obrigado por me permitir fazer parte da história do Melhor da Tarde.
Minha torcida por vocês é enorme!